VOU SER AVÔ, O PRESENTE É A BELA

Aos sábados temos sempre compromissos fundamentais. Normalmente, depois de passear com o Marreta, com o Ditão e levar bananas para os saguis que vivem na praça em frente ao condomínio, cumprimos uma atividade formativa: vamos comer pastel e tomar caçulinha na feira do Cambuí, na barraca do Armando. No último sábado depois do pastel fomos buscar as pizzas que compramos da Rosivania Widner, engenheira, advogada e colaboradora da ONG “Mãe Maria Rosa”.

Na feira da “Maria Monteiro” sempre encontramos algum conhecido, no último sábado encontramos o Marcelo Matheus, engenheiro químico pela UNICAMP que tornou-se um analista político original, com ele trocamos ideias sobre o legislativo municipal, seus diversos personagens e suas poucas personalidades, falamos sobre o quão grande é Lula, o papel fundamental de Alckmin e do PSB.

Mas o que tem dominado meu devaneio é o meu desejo de compartilhar com todos uma alegria: serei avô, logo chegará Isabela, a nossa Bela.

Isabela significa “consagrada a Deus” é variante de Elisabete, nome de origem hebraica e surge a partir do hebraico Elishebba. É um nome categorizado como teofórico, pois traz o nome de Deus incorporado (El, que significa “Deus”, e sab, que significa “juramento”).

Tenho pensado muito na Bela, na alegria que ela traz para os nossos corações, mesmo antes de podermos tê-la nos braços, e, principalmente, no que posso legar a ela de verdadeiro, de verdade e de significativo.

Como legar alguma ‘verdade’ se a ‘verdade’, segundo Nietzsche, seria apenas uma ilusão, uma enganação que tomamos como ‘valor de verdade’ e serviria para manter nossos corpos adestrados? Eu não gostaria que a Bela fosse dócil e adestrada, mas sim voluntariosa e livre, como Celinha.

Fui ficando cada vez mais inquieto, pois se a ‘verdade’ é mera ilusão, vivemos na Matrix.

Se for isso preciso deixar para a Bela bussolas, mapas e as sementes do desejo de libertação e de subversão, para que ela, a nossa Bela, armada com a palavra libertadora – liberdade em movimento -, lidere uma revolução que vai subverter a hipocrisia e instituir um mundo sem medos e mentiras. Mas como? Vou contar histórias para a Bela.

A mim caberá contar para ela histórias que a ajudem a liderar, vencer medos, sepultar culpas e debochar do cruel substantivo “pecado”, invenção humana para aprisionar vidas e almas.

Para a Bela vou contar histórias de heroínas como Hipácia, matemática, astrônoma e uma das mais importantes pensadoras da Antiguidade, que nasceu em meio ao caldeirão cultural de Alexandria – atual Egito; a história da vida de Joana d’Arc, santa, mártir ou bruxa?

Contar sobre a vida heroica de Dandara, esposa de Zumbi, guerreira capoeirista que lutou batalhas para preservar Palmares; há ainda Maria Quitéria de Jesus, baiana, heroína brasileira que entrou para o exército nacional, o Batalhão dos Voluntários do Príncipe, vestida como homem lutou a Guerra da Independência.

Vou contar para a Bela sobre Nísia Floresta, nascida no Rio Grande do Norte, no início do século XIX, primeira educadora feminista do Brasil, a primeira mulher a publicar textos em jornais, escreveu livros em defesa dos direitos das mulheres, dos índios e dos escravos, entre eles está “Direito das Mulheres e Injustiças dos Homens”, primeira obra brasileira a falar sobre direitos das mulheres à instrução e ao trabalho; Marie Curie Cientista polonesa, primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel, ganhou dois em áreas diferentes (química e física).

Falar sobre Patrícia Galvão será divertido. Pagu, nascida em São João da Boa Vista, SP (terra natal do meu amigo João Fernando Alves Palomo), foi escritora, poeta, tradutora, jornalista, cuja obra trata da defesa da mulher pobre e critica o papel conservador feminino na sociedade.

Simone de Beauvoir, presente em qualquer debate sobre feminismo, pois sua obra criou as bases do feminismo, será uma das heroínas que apresentarei para a Bela.

Bela vai conhecer a vida de Bertha Lutz, bióloga e educadora que teve influência direta na aprovação do voto feminino; vou contar para ela sobre a atriz Leila Diniz, símbolo da revolução feminina num Brasil retrógrado dos anos 1960 e 1970 e a de Rose Marie Muraro, voz do feminismo brasileiro, talvez a mais importante delas.

E há tantas mulheres maravilhosas no nosso tempo que ensinam tanto, vou contar sobre Luiza Erundina, Benedita da Silva, Dilma Rousseff, Ana Angélica Marinho, Marcia Quintanilha, Frida Barbosa, Lídice da Mata, Izalene Tiene, Ophelia Reinecke, Clara Ant, Marilena Chauí, Marcia Tiburi, Manuela D’avila, dentre outras tantas.

Vou contar também histórias das heroínas da família, mulheres fortes que renunciaram a tanto para dar aos seus filhos e filhas um elemento que se tornou essência da nossa alma: a honra do nosso nome, princípio que nos leva a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que nos permite gozar de respeito e sermos livres.

Vou contar essas histórias e outras, mas de forma divertida, para que o tempo possa amplificar o significado de cada uma, pois se palavras não explicam muito, pois tudo é de fato complexo, elas fazem pensar nas infinitas possibilidades do caminhar e nas escolhas, pois lugar de mulher é onde ela quiser.

Enfim, o presente é a Bela, pois isso hoje não trago reflexões, mas devaneios, desejos de oferecer à minha neta, tudo que me parece válido, verdadeiro e valioso para essa vida e para todas as outras, para a liberdade e para o caminhar fraterno e solidário, pois ela é um presente, é certeza da vida eterna.

Pedro Benedito Maciel Neto, 58, advogado – pedromaciel@macielneto.adv.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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